quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Solidão..



Solidão

Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

5 comentários:

João Videira Santos disse...

"Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo" - Muito bonito!

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Alda, bela fotografia...belo poema...Espectacular....
Beijos

Alda disse...

Obrigada João! Também gostei muito!

Alda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alda disse...

Ola Fernando, obrigado pela gentileza!