segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Às vezes...




Às vezes só a mentira salva. Então, no dia seguinte, quando as quatro Marias cansadas foram trabalhar, ela teve pela primeira vez na vida uma coisa, a mais preciosa: a solidão. Tinha um quarto só para ela. Mal acreditava que usufruía o espaço. E nem uma palavra era ouvida. Então dançou num ato de absoluta coragem, pois a tia não a entenderia. Dançava e rodopiava porque ao estar sozinha se tornava l-i-v-r-e! Usufruía de tudo, da arduamente conseguida solidão, do rádio de pilha tocando o mais alto possível, da vastidão do quarto sem as Marias. Arrumou, como pedido de favor, um pouco de café solúvel com a dona dos quartos, e, ainda como favor, pediu-lhe água fervendo, tomou tudo se lambendo e diante do espelho para nada perder de si mesma. Encontrar-se consigo própria era um bem que ela até então não conhecia. Acho que nunca fui tão contente na vida, pensou. Não devia nada a ninguém e ninguém lhe devia nada. Até deu-se ao luxo de ter tédio – um tédio até muito distinto.
CLARICE LISPECTOR

7 comentários:

Anónimo disse...

Alda...
Clarice é sempre impecável...
até com tédio...

Beijos

LOURO disse...

Olá Alda!

Lindo texto..!Bela escolha...Gostei!!!
Beijinhos decarinho e amizade,
Lourenço

Sara disse...

Hola Alda! desde luego la imagen es total para con el texto que nos regalas hoy....en complemento con esos sentimientos otoñales que nos acompañan.
abrazotedecisivo guapa

Alda disse...

Olá Leca,

Um beijo

Alda disse...

Olá Lourenço,

Obrigada pela visita!
Bjs

Alda disse...

Olá Sara,

A imagem foi tirada de carro em andamento, mas achei que estava apropriada! Obrigado!
Beijos

Mimo disse...

Tens um mimo para ti no meu blog.

Beijinhos